Em Altas lançado esta semana no parlamento europeu, a pesquisadora Larissa Bombardi mostra a discrepância entre limites tolerados no Mercosul e na União Europeia.

A reportagem é de Cida de Oliveira, publicada por Redação RBA, 16-05-2021.

Autoridades de Saúde do Brasil e a da Argentina permitem que as maçãs produzidas tenham 200 vezes mais resíduos de um dos agrotóxicos utilizados, o carbaril, do que os países da Europa. Enquanto os europeus permitem, no máximo 0,01 miligrama do inseticida em um quilo da fruta, nos dois países da América do Sul é aceito que cada quilo da fruta tenha até 2 miligramas do inseticida.

Pode não parecer, mas essa discrepância é muito perigosa. Quando ingerido com o alimento ou absorvido pela pede, o carburil inibe uma enzima chamada acetilcolinesterase. Isso causa uma superestimulação do sistema nervoso central, causando desde náusea, tontura e confusão mental até parada respiratória e morte, segundo a bula. Nos Estados Unidos foi classificado pela agência de proteção ambiental como provável cancerígeno à espécie humana. Estudos apontam que a substância é genotóxica. Ou seja, tem a capacidade de alterar o DNA das células, processo envolvido no surgimento de tumores. Sem contar os prejuízos ao meio ambiente.

O alerta dos excessos do Mercosul com o carburil está no atlas Geografia da Assimetria – Círculo do veneno e colonialismo no mercado entre o Mercosul e a União Europeia, lançado esta semana no Parlamento Europeu pela professora e pesquisadora do Departamento de Geografia da USP.

Acordo com a Europa

Em um dos mapas, Larissa mostra que os países do Mercosul estão exportando commodities agrícolas ou minerárias. Soja, milho, café, açúcar, e minérios. “Ao contrário quando a gente olha para os exportados pela União Europeia para o Mercosul, são produtos de alto poder agregado, de alta tecnologia, produtos ópticos, maquinário, produtos químicos, entre eles farmacêuticos e agrotóxicos. O acordo, como está proposto, visa incentivar isso mesmo. E se vier a ser selado, aprofundaria ainda mais essa enorme desigualdade. É isso que chamo de colonialismo molecular”, disse a pesquisadora à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

Em outro, mostra os ciclos de envenenamento. Os produtos exportados pelo Mercosul para a União Europeia contêm venenos agrícolas proibidos lá e outros com resíduos em taxas bem maior que o permitido. “Por isso teve repercussão, mobilizou parlamentares e a imprensa europeia”, disse.

Os mapas mostram também os impactos desse modelo agrícola de exportação, baseado no latifúndio com monocultura regado a agrotóxicos, sobre a saúde humana e meio ambiente. “A gente tem uma França só em soja. Isso é um absurdo por tudo o que representa para a saúde e meio ambiente, levando à violência no campo e concentração de terra”.

Brasil incentiva agrotóxicos

Para o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), o trabalho lançado esta semana qualifica o debate. “Mostra o quanto temos de trabalhar para mudar esse modelo de agricultura”, destacou em participação na conversa com Marilu.

Tatto lembrou que no Brasil a indústria dos agrotóxicos têm muitos incentivos fiscais. “É dinheiro do povo brasileiro. Neste orçamento de 2021 são R$ 20 bilhões pra essa cadeia. Quem produz de maneira agroecológica não tem incentivo nenhum”.

E criticou a proposta de acordo comercial da União Europeia com o Mercosul. “Não podemos aceitar e assinar esse acordo comercial. Se for assinado vai gerar mais desmatamento, mais violência no campo”.

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