Em 2015, chavismo sofreu sua maior derrota eleitoral neste século. Líder opositor Juan Guaidó boicotou o processo alegando fraude, e portanto perderá seu mandato como deputado.
A reportagem é de Victor Farinelli, publicada por Revista Fórum, 01-12-2020.
A Venezuela viverá no próximo domingo (6) as eleições que renovarão totalmente a sua Assembleia Nacional (unicameral), e que podem marcar um novo momento político no país. O último pleito legislativo ocorreu em 2015 e marcou a pior derrota do chavismo neste Século XXI: teve apenas 40,9% dos votos, contra 56,3% da oposição, que passou a contar com maioria.
Porém, desta vez o clima é diferente. As pesquisas apontam favoritismo do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela, referente do chavismo) e o presidente Nicolás Maduro chegou a declarar, nesta terça-feira (1º) que renunciará ao seu cargo se a oposição conseguir uma nova vitória este ano.
“Se a oposição vencer novamente, deixarei a presidência, não ficarei mais aqui. Deixo meu destino nas mãos do povo da Venezuela”, disse o mandatário, durante um programa de televisão. Em seguida, completou dizendo que “não tenho medo deste desafio, sei que o povo vai votar e vamos ter um grande triunfo da Revolução Bolivariana, da pátria de Bolívar, das forças de Chávez, creio que assim será”.
Por outro lado, a oposição chega dividida a estas eleições. Parte do setor decidiu apresentar candidatos e, sobretudo, permitir que seus atuais deputados concorram à reeleição.
Porém, outra parte preferiu boicotar o processo alegando que haverá fraude. Esse grupo é liderado pelo deputado Juan Guaidó, que em 2019 chegou a se autoproclamar presidente interino do país, e depois foi pivô de uma campanha internacional patrocinada pelos Estados Unidos para desconhecer a presidência de Nicolás Maduro – ambas as iniciativas terminaram fracassando.
A “presidência interina” de Guaidó era baseada no fato de que foi eleito presidente da Assembleia Nacional em 2019. Neste 2020, seu grupo criou um racha na oposição, em processo que terminou com dois presidentes diferentes no Legislativo. No entanto, como o ele não será candidato à reeleição este ano, perderá seu mandato e não poderá se manter no Legislativo no ano que vem, e tampouco alegar sua suposta presidência interina.
Não é a primeira vez que a direita venezuelana usa a estratégia de boicotar as eleições legislativas. Em 2005 também houve iniciativa semelhante, buscando invalidar o processo eleitoral. Não deu certo e terminou com o chavismo desfrutando de cinco anos com 100% representação parlamentar.