A América Latina é o novo epicentro da pandemia do coronavírus no mundo, contabilizando mais de 1 milhão de casos. As estimativas apontam que a região concentra, aproximadamente, 40% das mortes diárias pela Covid-19. Com a expansão do vírus nessa magnitude, os povos originários somam seus mortos às vítimas do novo coronavírus.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) estima que a população indígena seja de 45 milhões, quase 10% da população da América Latina. O Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas na América Latina e Caribe (FILAC) calcula que existem mais de 800 povos indígenas distribuídos de formas heterogêneas: Brasil concentra 305, seguido pela Colômbia (102), Peru (85) e México (78). Costa Rica e o Panamá, com 8 e 9 cada, e El Salvador (3) e Uruguai (2) com povos indígenas menores.
Retrato da população indígena
O FILAC alerta que a situação dos vários povos também não são homogênea, pois muitos existe uma grande fragilidade, com risco de desaparecimento físico e cultural. Estima-se que atualmente 462 povos tenham menos de 3.000 habitantes e cerca de 200 vivam em isolamento voluntário, em situações extrema vulnerabilidade. Isto significa altos índices de desnutrição, infraestrutura e falta de acesso aos serviços de saúde.
Os sistemas de saúde dos países da América Latina já são caracterizados por serem fracos e fragmentados, que não conseguem garantir o acesso universal para a população. Ainda tendem estar geograficamente centralizados, com serviços e médicos especializados concentrados nos grandes centros urbanos.
A distância entre hospitais e comunidades indígenas pode levar várias horas e dias de viagem. Em São Gabriel da Cachoeira, por exemplo, onde 90% dos moradores são indígenas, no Amazonas, a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) mais próxima fica a 852 quilômetros de distância, em Manaus, a capital do estado, fortemente castigada pela pandemia.
Em relação à outros serviços básicos, os povos indígenas também tem restrição de acesso. A diferença no acesso à água entre indígenas e não indígenas chega até a 32% em alguns países da América Latina – o caso mais desigual é no Panamá, onde 36,4% dos indígenas não tem acesso. As médias regionais de acesso à eletricidade são de 82% para os povos indígenas e as 97% para pessoas não indígenas, enquanto à media de acesso a tratamento de esgotos são de 57% e 75%, respectivamente.
Os dados contabilizados
Os dados disponibilizados pela Coordenadoria das Organização Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) (sigla em espanhol), apontam que até o dia 22 de maio, em toda a região da Bacia Amazônica, 1.861 indígenas foram contaminados pelo novo coronavírus e 472 morreram. A Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) tem realizado a atualização do novo coronavírus na região da Pan-Amazônia. O último levantamento, realizado na metade de maio, aponta para 58.102 casos confirmados e 3.554 falecidos pela Covid-19.
O país com maior número de indígenas afetados é o Peru. Foram 1.006 contaminados e 349 vítimas fatais pela Covid-19, atingindo 5 povos. O Brasil vem na sequência, com 435 casos confirmados, 91 mortes e 32 povos indígenas afetados. A taxa de letalidade da Covid-19 entre os indígenas está em quase 10% no Brasil, enquanto a taxa geral na população brasileira está em 6,1%, apontada como uma das mais altas do mundo, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). A Colômbia tinha o terceiro maior número de casos confirmados, eram 297 contaminados e 8 falecidos, afetando 11 povos indígenas.
Em meio à Covid-19, queimadas aumentam quase 100%
Pesquisas apontam para maior risco de morte por Covid-19 em pessoas que apresentam diabetes e doenças do aparelho respiratórias. A FILAC alerta que antes da chegada da pandemia, alguns países da América Latina tiveram aumento de mortes por doenças crônicas. A Bolívia e a Guatemala registraram aumento nos casos fatais de indígenas com diabetes nos últimos anos. Na Colômbia, houve aumento de mortes doenças respiratórias em indígenas.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou uma pesquisa em que aponta que queimadas podem ampliam risco de morte por doença respiratória. A fumaça causada pelas queimadas, que acontecem mais no período de seca (de maio a outubro), afetam as populações e os hospitais. O estudo da Fiocruz concluiu que o número de internações por doenças respiratórias dobra nesse período na região Amazônica.
Entre janeiro e maio deste ano, foram registrados 102.885 focos de queimadas na América do Sul, segundo o sistema de monitoramento de focos ativos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os focos aumentaram 48,8% em relação ao ano de 2019, se compararmos o mesmo período de janeiro a maio. Considerando apenas o período da pandemia, abril e maio, o aumento foi de 98,8% em comparação ao ano passado. A Venezuela (33.941) lidera o número de focos de queimadas na América do Sul, seguido da Colômbia (19.014) e Brasil (17.522).