O relatório “Tendências globais de emprego para a juventude 2020: tecnologia e o futuro dos empregos” divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) na semana passada apresenta um dos dados importante sobres as juventudes entre 15 e 24 anos da América Latina e Caribe: 23,3 milhões estavam sem emprego, educação ou formação (“nem-nem”) em toda a região em 2019.

Essa realidade é reflexo de uma região que está em desaceleração econômica generalizada e sincronizada, completando seis anos consecutivos de baixo crescimento. A projeção da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) é que em 2019 o crescimento econômico tenha sido em torno de 0,1% da produção. As estimativas para 2020 seguirão baixas, com percentual de 1,3. De acordo ainda com a CEPAL, o período de 2014-2020 será o de menor crescimento em sete décadas para as economias da região.

A projeção da taxa de desemprego geral para 2019 foi de 8,2%. A CEPAL e a OIT estimam que, em 2020, o percentual deve subir para 8,4%, o que significa que 25,3 milhões de pessoas estarão sem emprego na América Latina e Caribe. A estimativa da taxa de desemprego para jovens em 2019 foi de 17,9% e para 2020 será mantido praticamente o mesmo percentual do ano passado: 18%. Em termos absolutos, serão 9,4 milhões de jovens desempregados em 2020, representando 37,2% do desemprego total.

Apesar de constituir uma das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, os países da América Latina e Caribe não apresentaram diminuição no número de jovens sem emprego, educação ou formação desde 2005. De acordo com os dados da OIT, aproximadamente 23,3 milhões jovens latinos-americanos e caribenhos estavam nessa situação em 2019. “Muitos jovens ao redor do mundo estão se desapegando da educação e do mercado de trabalho, o que pode prejudicar suas perspectivas de longo prazo, além de prejudicar o desenvolvimento social e econômico de seus países”, afirmou Sangheon Lee, Diretor de Emprego do Departamento de Políticas da OIT.

Entre os 23,3 milhões de jovens nessa condição, 1,1 milhões ainda estão em situação de extrema pobreza, ou seja, recebem menos de US$ 1,90 por dia, e 2,3 milhões vivem em pobreza moderada, recebendo US$ 3,20 ao dia. A OIT destaca que esses dados representam a baixa qualidade do emprego das juventudes, que inclui “a falta de proteção jurídica e social, limitadas oportunidades de formação e de progressão profissional”.

A desigualdade de gênero também aparece entre os jovens latino-americanos e caribenhos. Segundo a OIT, as mulheres jovens têm mais que o dobro de probabilidade de serem afetadas pela condição “nem-nem” do que os homens. Isto acontece por que elas são mais suscetíveis ao trabalho doméstico não remunerado e que as impossibilitam de estudar e acessar o mercado de trabalho formal. O número de mulheres nessa condição na América Latina e Caribe era de 15,4 milhões e 7,9 milhões era de homens nem-nem no ano de 2019.

Outra questão levantada pelo documento é que os jovens empregados também enfrentam um risco maior do que os trabalhadores mais velhos de perder o emprego por causa da automação. “Isso reflete como as habilidades específicas de ocupação transmitidas pelo treinamento profissional tendem a se tornar obsoletas mais rapidamente do que as habilidades de educação geral”, diz o relatório. No caso dos jovens trabalhadores sem qualificação, a automatização “os obriga a passar para um trabalho precário, depois outro, até serem nem-nem”, analisa a OIT.

Essa situação é agravante na América Latina e Caribe, pois mais de 60% dos jovens empregados estão em trabalhos informais. “Não estão sendo criados empregos suficientes para esses jovens. Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar esse talento ou esse investimento em aprendizado se quisermos enfrentar os desafios impostos pela tecnologia, mudanças climáticas, desigualdade e demografia“, entende Lee.

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