A América Latina se tornou no início de junho o novo epicentro da pandemia do novo coronavírus no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Com o seu histórico de ser a região mais desigual do planeta, a crise da Covid-19 deixou mais visível as desigualdades, tornando-se também o epicentro da crise econômica e social.
De acordo com as últimas projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a região terá uma queda histórica no Produto Interno Bruto (PIB) de -9,1% em 2020, com estimativa de -9,4% na América do Sul e -8,4% na América Central e México. A contração na economia projetada para região é pior que no período da crise de 1929 e da Primeira Guerra Mundial. Sendo dessa magnitude, o PIB per capita na América Latina será semelhante ao do ano de 2010, ou seja, haverá um retrocesso em 10 anos no nível de renda per capita.
Com esse cenário, prevê-se que a taxa de desemprego na América Latina seja de 13,5% em 2020, sendo que o percentual de 2019 foi de 8,1%. Se confirmando essa situação, o número de desempregados chegaria a 44,1 milhões de pessoas, representando um aumento de quase 18 milhões, em comparação ao ano de 2019. Esses números são muito mais elevados do que os observados durante a crise de 2008, quando a taxa de desemprego aumentou de 6,7% em 2008 para 7,3% em 2009, ou seja, menos de 1 ponto percentual.
Nesse contexto, o número de pessoas na pobreza aumentará em 45,4 milhões somente em 2020, passando de 185,5 milhões antes da pandemia para 230,9 milhões, representando 37,3% da população da América Latina. Já o número de pessoas em situação de extrema pobreza aumentaria em 28,5 milhões, passando de 67,7 milhões de 2019 para 96,2 milhões em 2020, o que representa 15,5% da população.
A CEPAL também projeta maior desigualdade na distribuição de renda em todos os países da América Latina, fazendo aumentar o Índice de Gini entre 1% e 8%, tendo os piores resultados no Brasil, Argentina e Chile.
A pandemia não está afetando todos igualmente
Os 73 bilionários da América Latina e do Caribe aumentaram suas fortunas em 17% entre março e junho deste ano, o que equivale a US$ 48,2 bilhões. Desse total de bilionários que aumentaram suas fortunas, 42 são brasileiros, elevando seu patrimônio em US$ 34 bilhões, passando de US$ 123,1 bilhões para US$ 157,1. Os dados são do relatório “Quem paga a conta?”, realizado pela Ofxam.
O aumento das fortunas dos bilionários latinos-americanos e caribenhos equivale a 38% do total de recursos previstos em pacotes de socorro econômico adotados por todos os países da região. Enquanto as projeções da CEPAL indicam que o novo coronavírus pode ter causado uma perda de 80% na renda dos trabalhadores informais, oito novos bilionários surgiram na América Latina e Caribe, ou seja, um novo bilionário a cada duas semanas.
Taxar a riqueza para enfrentar a crise da Covid
De acordo com o relatório da Ofxam, a perda de arrecadação em 2020 pode chegar a 2% do PIB da região, o que representa US$ 113 milhões a menos e equivale a 59% do investimento em saúde dos países da América Latina e Caribe. Com o colapso na arrecadação de impostos, a Ofxam apresenta propostas para evitar o desmantelamento dos serviços púbicos:
- Imposto extraordinário às grandes fortunas;
- Pacotes de resgates públicos a grandes empresas com condições;
- Imposto sobre resultados extraordinários de grandes corporações;
- Imposto Digital;
- Redução de impostos para quem está em situação de pobreza;
- Reduzir a regressividade do mix fiscal;
- Deter a enorme perda de arrecadação por conta da evasão fiscal;
- Elevar ou criar taxas sobre rendimentos de capital;
- Revisar impostos sobre propriedades;
- Revisar os incentivos tributários;
- Estabelecer um novo pacto fiscal e fortalecer a cultura tributária.