A secretária executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, alertou que as economias da região sofrerão as conseqüências negativas da pandemia por vários canais.
A publicação é de CEPAL.
A Secretária Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Alicia Bárcena, alertou hoje que a pandemia de coronavírus (COVID-19) terá efeitos devastadores na economia mundial, certamente mais intensos e diferentes dos sofridos durante o período. Crise financeira global de 2008-2009, e que os países da América Latina e do Caribe não os ignoram, pois serão impactados por vários canais.
O alta funcionária das Nações Unidas participou nesta quinta-feira, 19 de março, de uma teleconferência do Diálogo Interamericano sobre o coronavírus e suas consequências para as economias da América Latina e do Caribe, moderada por Michael Shifter, presidente da instituição com sede em Washington, e que também incluía Santiago Levy, economista sênior da Brookings Institution.
Segundo Alicia Bárcena, a crise do COVID-19 entrará na história como uma das piores que o mundo já experimentou. Ele explicou que a doença coloca em risco um bem público global essencial, a saúde humana, e afetará uma economia mundial já enfraquecida e a afetará tanto no lado da oferta quanto da demanda, seja pela interrupção das cadeias da produção – que afetará gravemente o comércio mundial – como a perda de renda e lucros devido ao aumento do desemprego e a maiores dificuldades no cumprimento das obrigações da dívida.
“A América Latina e o Caribe, assim como outras regiões emergentes, serão afetados negativamente”, declarou a mais alta autoridade da CEPAL. Ela lembrou que a região cresceu a uma taxa estimada de apenas 0,1% em 2019 e que as últimas previsões da Comissão feitas em dezembro último previam um crescimento de 1,3% para 2020. No entanto, “as projeções foram revisadas caiu significativamente no cenário atual “, afirmou.
Ela explicou que atualmente a CEPAL está estimando uma contração de -1,8% do produto interno bruto regional, o que poderia levar ao desemprego na região, aumentando em dez pontos percentuais. Isso levaria o número de pessoas pobres da região a subir de 185 para 220 milhões, de um total de 620 milhões de habitantes; enquanto as pessoas em extrema pobreza podem aumentar de 67,4 para 90 milhões.
Bárcena especificou que o Coronavírus afetará a região através de cinco canais. Um primeiro canal de transmissão dessa crise é o efeito da diminuição da atividade econômica de vários dos principais parceiros comerciais nas exportações de bens dos países da região. A China, por exemplo, é um destino importante para as exportações de várias economias latino-americanas, sendo o principal parceiro comercial nos casos do Chile, Peru e Brasil. A CEPAL estima que as exportações da região para esse destino possam cair em 10,7% em valor.
Um segundo canal vem da queda na demanda por serviços turísticos, que impactaria mais severamente os países do Caribe. Estima-se que, se a proibição de viagens devido ao vírus durar um, dois ou três meses, a atividade turística no Caribe, por exemplo, em 2020 contrairia 8%, 17% e 25%, respectivamente.
Bárcena acrescentou que um terceiro canal de transmissão seria através da interrupção das cadeias globais de valor. Isso afetaria principalmente o México e o Brasil, países que importam peças e bens intermediários da China para seus setores de manufatura (especialmente no caso de autopeças, eletrodomésticos, produtos eletrônicos e farmacêuticos).
Um quarto canal que afetaria a região da América Latina e do Caribe é a queda nos preços dos produtos básicos (commodities), especialmente nos países que exportam matérias-primas na América do Sul. Enquanto isso, um quinto canal de transmissão decorre da maior aversão ao risco dos investidores e do agravamento das condições financeiras globais, explicou. “Parte desses efeitos já pode ser vista no acentuado declínio nos índices do mercado de ações na região”, afirmou Bárcena.
Durante a teleconferência, o Secretária Executivo da CEPAL também se referiu às medidas que os governos da região já estão tomando para tentar combater os efeitos econômicos negativos da pandemia. Elas vão desde ações de saúde para reduzir e prevenir infecções, até medidas de contenção social que buscam proteger os grupos mais vulneráveis.
Os governos também estão adotando medidas econômicas, fiscais e monetárias, que envolvem aumento dos gastos sociais, redução das taxas de juros, intervenção nos mercados de câmbio, suspensão de cobranças de empréstimos bancários, provisão de linhas de crédito para pagamento de salários da empresa, congelamento da sobretaxa por falta de pagamento em serviços de água e ações para evitar a escassez de bens básicos, entre outros.
Alicia Bárcena também destacou a importância de proteger os grupos mais vulneráveis da crise, principalmente os idosos, os setores de baixa renda e os mais pobres. “O grau de desigualdade também é importante para avaliar em que medida a crise afetará os grupos mais vulneráveis da sociedade. Quanto mais desigual é um país, mais esses grupos vulneráveis suportam o peso do impacto econômico da pandemia e menos recursos terão para combatê-la. Atenção especial deve ser dada às mulheres por seu duplo papel de trabalhadoras e cuidadoras “, afirmou.
Por fim, a mais alta autoridade da CEPAL pediu coordenação e cooperação global e regional para enfrentar o COVID-19. “Nenhum país pode combater esta pandemia sem cooperação global e regional. No final das contas, o que realmente precisamos considerar é o que acontecerá com o multilateralismo. Deve haver mais integração. Definitivamente, devemos avançar em direção a uma maior coordenação e a prioridade das políticas deve ser como lidar com a atual crise social e de saúde ”, enfatizou.
“Essa pandemia tem potencial para rearmar a globalização geopolítica, mas também é uma oportunidade de lembrar os benefícios da ação multilateral. É o que, por exemplo, o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, está tentando fazer: ver como a coordenação de políticas pode apoiar os países em desenvolvimento, desde as assimetrias entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento será percebido cada vez mais claramente. Já vimos isso com todo o movimento de descontentamento social contra esses modelos de globalização que não estão respondendo às expectativas das pessoas ”, declarou.
“Precisamos repensar tudo, toda a economia. Precisamos de uma nova visão para focar em como lidar com esse cenário difícil que está por vir “, enfatizou Bárcena.